Localizado na Gávea, bairro da zona sul carioca, o Instituto Moreira Salles soma 3 mil m² construídos, implantados numa área de 10.500 m², com jardins abertos ao público. Antiga residência da família Moreira Salles, a casa foi adaptada para seus novos fins, abrigando salas de exposição, sala de aula, biblioteca, auditório, cafeteria, loja de arte e ateliê.
O instituto comporta ainda em seu terreno a Reserva Técnica Fotográfica, de padrões e tecnologia internacionais, e a Reserva Técnica Musical, que abriga o Centro Petrobras de Referência da Música Brasileira. O arquivo documental do arquiteto Olavo Redig de Campos, responsável pelo projeto da casa, foi doado ao Instituto e atualmente encontra-se em processamento técnico, ainda não disponível para consultas.
O IMS prefere atuar fundamentalmente em iniciativas que ele próprio concebe e executa. Além disso, prioriza projetos de médio e longo prazos, o que significa escapar da fugacidade dos eventos, desenvolvendo programas regulares voltados para a formação e o aprimoramento do público.
A própria casa, marco da arquitetura moderna dos anos 1950, é um atrativo para visitantes.
O que encontrar:
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Projetada em 1948, a casa do embaixador Walther Moreira Salles (hoje sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro) foi inaugurada em 1951. Situada no alto da Gávea, em um terreno com aproximadamente 10 mil metros quadrados, e em meio a uma exuberante mata atlântica (Floresta da Tijuca), é um autêntico palacete moderno – também herdeiro das tradicionais “casas de chácara” cariocas, como a residência de Raimundo Ottoni de Castro Maya (1954-1957). Isto é, trata-se de uma construção monumental, elegante e austera, projetada para abrigar tanto uma família numerosa quanto uma intensa vida social, marcada por frequentes recepções para convidados ilustres. Um belo registro dessa vida aparece no filme Santiago (2007), de João Moreira Salles, em que, por intermédio da figura idiossincrática do mordomo argentino Santiago Badagiotti, vemos os bastidores dessa história.
Projetada em 1948, a casa do embaixador Walther Moreira Salles (hoje sede do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro) foi inaugurada em 1951. Situada no alto da Gávea, em um terreno com aproximadamente 10 mil metros quadrados, e em meio a uma exuberante mata atlântica (Floresta da Tijuca), é um autêntico palacete moderno – também herdeiro das tradicionais “casas de chácara” cariocas, como a residência de Raimundo Ottoni de Castro Maya (1954-1957). Isto é, trata-se de uma construção monumental, elegante e austera, projetada para abrigar tanto uma família numerosa quanto uma intensa vida social, marcada por frequentes recepções para convidados ilustres. Um belo registro dessa vida aparece no filme Santiago (2007), de João Moreira Salles, em que, por intermédio da figura idiossincrática do mordomo argentino Santiago Badagiotti, vemos os bastidores dessa história.
Filho de diplomata, Olavo Redig de Campos, o autor do projeto, havia feito sua formação universitária na Escola Superior de Arquitetura de Roma, e, naquele momento, já dirigia o Serviço de Conservação do Patrimônio do Itamaraty, responsabilizando-se pelos projetos das embaixadas do Brasil no exterior. Portanto, embora menos conhecido do que outros arquitetos modernos cariocas, como Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira, Sérgio Bernardes ou os irmãos Roberto, entre outros, era o profissional ideal para o programa em questão. O projeto paisagístico ficou a cargo de Roberto Burle Marx.
Organizada em torno a um pátio central, a casa apresenta um estudado contraste entre o classicismo italiano de Redig de Campos e o informalismo imprevisto do desenho de Burle Marx. Ou, em outras palavras, entre a civilização e a natureza. Envolvido por uma ala íntima, de um lado, e por dependências sociais em outros dois lados e no meio, esse pátio trapezoidal se abre para o jardim com piscina e a vista da montanha, ao fundo, através de uma passagem livre ao final do volume da sala de jantar a oeste. Essa passagem é delicadamente coberta por uma marquise ondulante – elemento muito característico da arquitetura moderna carioca –, que fecha de modo sensual a composição do pátio, envolvido inteiramente por uma elegante colunata externa.
Visando preservar a parte íntima da casa, o arquiteto protegeu a fachada dessa ala com quebra-sóis verticais móveis, que permitem controlar tanto a incidência solar sobre o corredor de acesso aos quartos, quanto a sua visibilidade aos olhos de visitantes e empregados. Já na área social, as paredes envidraçadas ou vazadas por rótulas e venezianas aludem a um sentido de permeabilidade e movimento, muito propício a um lugar de festas. Com pés-direitos generosos, os ambientes sociais se distribuem ao longo de três corpos edificados, sendo as salas de estar e de jantar, braços menores do volume principal, de acesso, que abriga as dependências de serviço, de um lado, e a chapelaria, o hall de entrada, o cofre-forte, a biblioteca, a sala íntima (conhecida como “sala dos azulejos”) e o terraço, de outro.
Distinguindo-se do conjunto, a entrada principal da casa apresenta uma feição mais clássica do que moderna, com duas altas colunas revestidas de mármore contra o fundo de uma parede pintada em tom vermelho terroso, inspirado na famosa Vila dos Mistérios, de Pompeia. O piso é de mármore italiano Rosso Verona e Botticino, compondo um desenho geométrico losangular em vermelho e branco que acentua as diagonais e dissolve a rigidez solene da arquitetura. O mesmo piso se prolonga nas amplas áreas de circulação social da casa, que envolvem os cômodos como galerias cobertas (loggias), fechadas por portas de correr de vidro. Nas salas de estar e de jantar, o piso de mosaico é substituído por tábuas de madeira corrida, material também presente nos móveis da biblioteca, decorada em estilo inglês. Na sala íntima, as paredes e o piso são revestidos por ladrilhos hidráulicos e azulejos portugueses azuis e brancos, criando um efeito decorativo sinestésico que contrasta com a brancura dominante da casa. Decididamente, o uso variado de materiais nobres reforça as surpresas no percurso de visitação à casa, criando um efeito próximo daquilo que Le Corbusier definiu como promenade architecturale.
A água é também um elemento importante na criação da ambiência da casa, aparecendo na fonte do pátio, na piscina do jardim e no espelho d’água situado entre a sala de jantar e a ala de serviço, arrematado por um mural sinuoso de azulejos representando lavadeiras, feito por Burle Marx.
Se o mestre Lucio Costa, no projeto para os edifícios do Parque Guinle (1943-1952), também no Rio de Janeiro, já havia demonstrado a possibilidade de uma perfeita adequação entre um léxico moderno – corpos lineares, pilotis, superfícies envidraçadas, brise-soleil – e referências históricas e vernaculares – treliças e cobogós –, Olavo Redig de Campos prolonga aqui os seus ensinamentos, adaptando-os, no entanto, a um vocabulário mais luxuoso. Vem daí o gigantismo dos módulos de elementos vazados que utiliza (blocos de concreto pintados de branco), que se distanciam da função original de sombreamento e discrição, e assumem uma feição eminentemente decorativa, associada à monumentalidade.
Se o projeto moderno em arquitetura buscou, em linhas gerais, a produção de standards, rumo a uma tipologia progressivamente anônima e coletiva – daí a sua abstração geométrica –, a casa do embaixador Walther Moreira Salles na Gávea, ao contrário, utiliza-se dessa linguagem em prol de uma formalização singular e, mais do que isso, extremamente pessoal. O sinal mais evidente disso são as maçanetas das portas, moldadas todas segundo a pegada única do seu proprietário. Mas, em que pese a especificidade particularista do programa e das soluções encontradas nesse caso, é preciso lembrar que o desvio da norma funcionalista foi uma das grandes marcas da arquitetura moderna brasileira, ocasionando tanto as duras críticas de Max Bill ao “irracionalismo” dessa produção, quanto o sincero lamento de Walter Gropius diante de obras como a casa de Oscar Niemeyer em Canoas (1952), que, apesar de muito bela, em sua opinião, infelizmente não poderia ser multiplicada. Assim, por diversas razões, a residência Moreira Salles também nasce com status de obra única. Mas o seu porte e aspecto palaciano deram-lhe maleabilidade, permitindo a sua sobrevida, em novos tempos, como instituto cultural.
Fonte: www.ims.com.br